Entrevista: Francisco Grijó
Alice, Viviane, Lorna, Mariana, a literatura de Francisco Grijó é cercada por mulheres. Em seu mais novo livro, o escritor conta histórias de não uma, mas várias mulheres, cada uma com a sua particularidade. Todas Elas, Agora é (Cousa), transita entre o erotismo e a pornografia. Para Grijó, a pornografia e o erotismo são elementos que não prejudicam a obra de arte. “A ideia inicial era ter o erotismo como elemento conciliador de todas as histórias”
O novo livro começou como um desafio, o escritor conta que queria se propor a um exercício experimental e compor cada história com elementos próprios, que se diferenciassem uma das outras. Ao todo, são nove contos que se alternam entre narradores — e formas de narrar, em 3ª ou 1ª pessoa — muito distintos. Essa é maior característica que destoa essa obra dos outros livros de contos do autor.
Livros por Lívia — As mulheres são o assunto preferido de seus livros. Como são as mulheres dos seus livros e especificamente em Todas Elas, Agora?
Francisco Grijó — As mulheres de meus livros são de carne e osso, amam, gritam, choram, matam, morrem. São demasiadamente humanas, vingativas, amantes, nervosas, vaidosas. Neste livro há mulheres para todos os gostos: desde a pérfida esposa até a amante mutilada; da prostituta à santa (de verdade); da tríbade à atriz medíocre. São verossímeis — talvez com exceção da personagem Maya, do conto “Como estão as coisas em Glocca Morra?”.
LL — O erotismo esta presente acho q em todos os seus livros, mas como surgiu a ideia de fazer o livro só de contos eróticos? que levasse essa descrição mais explicita?
FG — É um livro de contos, nos quais alguns são eróticos — ou mais que isso: podem considerá-los pornográficos, embora eu não veja a pornografia e o erotismo como elementos que prejudicam a obra de arte. A ideia inicial era ter o erotismo como elemento conciliador de todas as histórias.
LL — Nessa obra você diz que se forçou a um exercício mais experimentalista, queria que você contasse um pouco como foi isso?
FG — Tentei escrever nove histórias de formas diferentes. Os narradores — e as formas de narrar, em 3ª ou 1ª pessoa — são distintos. Foi um experimento, um exercício de superação. Alguns de meus livros têm narradores diferentes, mas nunca experimentei isso dentro de um determinado livro. Em “Diga Adeus a Lorna Love”, de 1987, “Um Outro País para Alice”, de 1989, e “Licantropo”, de 2001, minhas coletâneas de contos, os narradores têm, quase sempre, os mesmos tiques narrativos, os cacoetes que repito em muitos de meus livros. Em “Todas Elas, Agora”, resolvi escrever 9 textos de formas diferentes, cada uma. O leitor julgará se são tão distintas assim, se consegui meu objetivo. Espero ter conseguido.